Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, depõe na CPI da Pandemia; acompanhe
27/05/2021 11:58 em Politica

Ele será questionado sobre as dificuldades que o instituto enfrenta para produzir a Coronavac e sobre as negociações com o Ministério da Saúde, em 2020

 

CPI da Pandemia ouve agora o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. O Butantan é responsável pela produção no Brasil da Coronavac, vacina contra a Covid-19 mais aplicada até o momento em brasileiros. 

Até meados de maio, cerca de 70% das doses contra a covid-19 aplicadas no Brasil eram da Coronavac.

Professor titular de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Covas está à frente do Instituto Butantan desde 2017. Em junho de 2020, foi o responsável pelo acordo de colaboração firmado com a farmacêutica chinesa Sinovac para o desenvolvimento clínico do imunizante contra o novo coronavírus.

Resumo da CPI da Pandemia:

Declarações de membros do governo dificultam negociações com China

Questionado sobre como declarações de membros ou ex-membros do governo federal podem influenciar na relação com a China, principal fornecedor do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) da Coronavac, Covas disse ser senso comum que as falas feitas aqui no país repercutem na imprensa da China.

"Isso se reflete nas dificuldades burocráticas. O que era normalmente resolvido em 15 dias, hoje leva mais de um mês. Nós que estamos na ponta sentimos isso. A Fiocruz também sentiu essa dificuldade", disse ele.

"O embaixador [da China no Brasil, Yang Wanming] já deixou claro para nós que declarações que desmerecem a China, causam inconformismo do lado chinês. O ministro [das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco] França tem ajudado nessa interlocução e o destencionamento já teve reflexão nesses insumos que chegaram", completou. 

Fala de Bolsonaro travou tratativas até janeiro

Dimas Covas afirmou que, depois que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sem manifestou em 20 de outubro contra a compra da Coronavac, não foram feitos progressos nas negociações até janeiro de 2021.

"Nosso caminho era outro. Começamos a negociar com estados e municípios", disse o diretor do Butantan. 

Ele citou ainda como exemplo da diferença no tratamento o fato de que o contrato com a AstraZeneca, firmado em agosto, recebeu adiantamento de recursos por parte do governo federal.

"Essa [a Coronavac] apesar de estar em solo brasileiro e sendo produzida, só foi assinado em janeiro, seis meses depois da primeira proposta."

Governo não entendeu importância das vacinas em 2020

Questionado pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL) sobre os motivos que teriam levado o governo federal a não aceitar as propostas do Butantan, Covas disse que essa era uma boa pergunta, já que havia sido feito todo o esforço para fornecer informaçõs técnicas.

"Havia naquele momento incertezas sobre as vacinas, de forma geral, não em relação a essa vacina. Essa [a Coronavac] tinha todos os elementos para levar a vacina a ser usada muito rapidamente", disse.

"Acho que houve um descompasso de entendimento da situação do momento, da importância da vacina dentro do contexto da própria pandemia. Nós, por outro, lado tínhamos absoluta certeza de que ela seria importante."

Ele disse ainda que, ao não aceitar a primeira proposta, feita em julho, o Ministério da Saúde abriu mão, efetivamente, da possibilidade de ter 60 milhões de doses do imunizante ainda em 2020.

"Essas idas e vindas foram dificultando o cronograma, não o quantitativo."

Brasil poderia ter sido o 1º país do mundo a vacinar contra Covid-19

Covas afirmou aos senadores na CPI que o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a começar a imunização contra o novo coronavírus se "houvesse uma agilidade de todos os atores" trabalhando em conjunto.

"O mundo começou a vacinação no dia 8 de dezembro. No final do mês, tinham sido aplicadas pouco mais de 4 milhões de doses no mundo e nós tínhamos 5,5 milhões [prontas e estocadas], sem contrato com o Ministério", disse o diretor do Butantan.

"Poderíamos ter iniciado a vacinação antes do que começou, tínhamos as doses disponíveis. Eu, muitas vezes, declarei publicamente que o Brasil poderia ser o primeiro país do mundo a começar a vacinação não fossem os percalços que tínhamos que enfrentar nesse período, tanto do ponto de vista do contrato como do ponto de vista regulatório."

Butantan fez 3 propostas ao Ministério da Saúde em 2020

Em sua fala inicial na CPI da Pandemia, depois de traçar um breve histórico da atuação do Butantan, Dimas Covas afirmou que fez três propostas em 2020 para o fornecimento da Coronavac ao Ministério da Saúde: em julho, em agosto e em outubro.

Ele disse que em julho foram ofertados 60 milhões de doses, com entregas previstas para o último trimestre de 2020. Depois, em outubro, a oferta foi ampliada para 100 milhões de doses, sendo que 45 milhões seriam produzidas no Butantan até dezembro de 2020, 15 milhões até fevereiro de 2021 e o restante até maio.

"Tudo aparentemente estava indo muito bem, tanto que em 20 de outubro fui convidado pelo [ex-]ministro [Eduardo] Pazuello para uma cerimônia no Ministério da Saúde em que a vacina seria anunciada como uma vacina [do PNI], com a incorporação de 46 milhões de doses", disse Covas.

"A partir desse ponto, é notório que houve uma inflexão. E digo isso porque saímos de lá muito satisfeitos e achávamos que, de fato, teríamos resolvido parte desse problema. No outro dia, de manhã, as conversações adicionais não seguiram porque houve uma manifestação do presidente da República [Jair Bolsonaro] dizendo que a vacina não seria incorporada."

Justificativa para a convocação

Entre outras questões, Covas será questionado sobre as dificuldades que o instituto enfrenta para produzir a vacina. Também espera-se que ele reforce a tese de que o Butantan, órgão ligado ao governo de São Paulo, buscou viabilizar antecipadamente as vacinas ao Brasil, mas que essa negociação não teria encontrado respaldo no governo federal até o final de 2020. 

O requerimento de convocação é assinado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). “É necessária a oitiva do senhor Dimas Tadeu Covas para que esclareça todos os detalhes da atuação do Instituto Butantan desde o início da pandemia, especialmente com relação à produção de vacinas”, defendeu o senador.

Recentemente, o Instituto Butantan paralisou o envase do imunizante no país por falta de ingrediente farmacêutico ativo (IFA) importada da China. Senadores apontam que crises diplomáticas com a China, provocadas por declarações presidenciais, estão prejudicando o envio do IFA e atrasando a produção da vacina no país.

Os próximos depoimentos

Os próximos depoimentos da CPI da Pandemia já estão previstos, conforme acordo entre os membros da comissão. A CNN teve acesso ao calendário que deve nortear os próximos passos da CPI.

Veja abaixo a programação de oitivas definida para para o mês de junho:

Dia 1º

· Nise Yamaguchi - médica oncologista e imunologista

Dia 2

· Clóvis Arns da Cunha - Professor de Infectologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia

· Zeliete Zambom, Médica de Família e Comunidade, Professora da Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic e Presidente Sociedade Brasileira Medicina de Família e Comunidade

· Átila Iamarino - Biólogo e pesquisador, formado em microbiologia

Dia 8

· Élcio Franco -Ex-secretário executivo do Ministério da Saúde

Dia 9

· ísia Trindade -Presidente da Fiocuz

Dia 10

· Fernando de Castro -Presidente da União Química

Dia 11

· Cláudio Maierovich, médico sanitarista e ex-presidente Anvisa e da Fiocruz

· Nathália Pasternak, microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP)

Dia 15

· Marcellus Campelo - Secretário de Saúde do Amazonas

Dia 16

· Fernando Pigatto, Presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS)

· José Gomes Temporão, médico, professor e pesquisador aposentado da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e ex-Ministro da Saúde  

Dia 17

· Carlos Wizard – Empresário 

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