CPI ouve ex-diretor da Saúde suspeito de pedir propina; acompanhe
07/07/2021 11:50 em Politica

Roberto Dias foi exonerado do cargo na última quarta-feira (30); segundo vendedor Luiz Paulo Dominghetti, Dias pediu propina de US$ 1 por dose de vacina

 

CPI da Pandemia ouve agora o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias.

Ele foi exonerado na última quarta-feira (30) após suspeitas de pedido de propina na contratação de compra de doses da vacina da AstraZeneca pelo governo federal. Roberto Dias nega as acusações feitas pelo vendedor e policial militar Luiz Paulo Dominghetti.

Ao jornal Folha de S. Paulo, Dominghetti afirmou que Dias pediu US$ 1 de propina por dose da vacina. Em seu depoimento à CPI, o vendedor reafirmou o que revelou ao jornal. Durante sua oitiva, realizada na última quinta-feira (1º), Dominghetti, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply, disse ter recebido o pedido de propina para a compra de 400 milhões de doses do imunizante.

A analista política da CNN Renata Agostini apurou que Dias procurou de forma insistente o representante oficial da Davati no Brasil para tratar do negócio ao menos três semanas antes de a empresa fazer oficialmente uma oferta para a venda de vacinas ao governo brasileiro.

Mensagens obtidas pela CNN mostram que Dias começou a tentar contato com o representante oficial da Davati no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho, no dia 3 de fevereiro. O movimento do então diretor de logística ocorreu, portanto, muito antes de a empresa enviar à pasta a proposta para a venda de 400 milhões de doses da vacina de Oxford.

Acompanhe o resumo da CPI da Pandemia: 

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Dias diz que não negociou doses, mas sim verificou disponibilidade de doses

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O ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde afirmou em depoimento à comissão que não negociou as vacinas da AstraZeneca com a Davati, mas sim "verificou a disponibilidade de doses". 

Ao ser perguntado sobre reuniões com outras empresas para aquisição de vacinas, como a Pfizer, Dias afirmou que "são coisas distintas". 

"Quando se faz referência a Pfizer, o Sr. faz alusão a duas coisas distintas. Na Pfizer, é negociação de contratação de vacinas a qual não era minha atribuição e nunca o fiz. Quando o Sr. fala da Davati, são 400 milhões de doses de vacinas a pronta entrega, então estou verificando a existência das doses. Não estou negociando vacina ou preço."

"Não me coube negociar vacinas, fiz reuniões operacionais, sim. E com a Davati foi a verificação da existência das doses. É diferente, bem diferente", completou Dias.

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Dias: Davati só passa a existir a partir do dia 26

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Segundo o depoente, a empresa Davati Medical Supply, que ofertava as vacinas da AstraZeneca ao Ministério da Saúde, só "passa a existir a partir do dia 26 [de fevereiro]". O jantar com Dominghetti, que Dias nega ter marcado, aconteceu no dia 25 de fevereiro. 

"No início de fevereiro, quando chega a possibilidade da existência dessas doses e seria a cargo desse Sr. Cristiano. Ele então me manda um anexo, um conjunto de documentos que não fazem sentido e não apresenta o princípio básico: a carta de representação do fabricante", disse. 

Dias disse que a empresa até então não era a Davati, mas sim se apresentava como "Latin Air Supply". "Ela [a empresa] não se apresentava como Davati, mas sim como Latin Air Supply. A Davati passa a existir após o dia 26 de fevereiro. Antes do dia 26, a proposta era de uma empresa chamada Latin Air Supply, algo assim", revelou. 

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Dias diz que teve 'agenda com amigo' em restaurante e que não combinou encontro com outras pessoas 

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Durante sua oitiva, Dias negou ter marcado jantar no restaurante Vasto, em Brasília, com o coronel Blanco e o revendedor Luiz Paulo Dominghetti. Segundo ele, o encontro no restaurante era apenas com José Ricardo Santana, apontado por Dias como "um amigo".

"O encontro foi marcado entre mim e meu amigo, marcado por telefone. Não combinei encontro com outras pessoas além dessa. Muito provavelmente o coronel Blanco soube por alguma mensagem ou ligação. Eu estava na mesa quando coronel Blanco chega e me apresenta Dominghetti, falamos sobre futebol, e ele então introduziu o assunto de vacina e, posteriormente,  eu pedi a agenda formal no Ministério", disse.

Segundo ele, o pedido de propina relatado por Dominghetti nunca aconteceu. "Esse episódio nunca ocorreu. Eu estive com Dominguetti nessa noite, no dia seguinte na agenda oficial no ministério, e nunca mais o vi".

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Dias: Nunca falei com Bolsonaro ou com os filhos dele

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Ao responder as perguntas do relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou que nunca conversou com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ou com os filhos dele.

"[Não tenho relação] nenhuma com o presidente, conheço o presidente. O mais próximo que estive do presidente foi cerca de 5 metros. Nunca falei com ele ou com os filhos dele", disse. 

Ele também afirmou que nunca recebeu nenhuma orientação do gabinete da Casa Civil acerca de recomendações. "Nunca recebi nenhuma orientação formal ou informal". Dias afirmou, no entanto, que devido a criação de um gabinete de crise, a Casa Civil "deve ter trocado ou mandado mensagem para mim ou para a caixa institucional do Dlog [departamento de logística] por força dos grupos que a gente participava". 

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Nunca pedi nenhum tipo de vantagem a Dominghetti, diz Dias

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Durante sua fala inicial, Roberto Dias afirmou nunca pediu nenhuma vantagem ao revendedor de vacinas da Davati Medical Supply, Luiz Paulo Dominghetti. 

"Nunca pedi nenhum tipo de vantagem a Dominguetti e nem a ninguém. Em 25 de junho fui injustamente acusando nessa CPi de pressionar um funcionário e como prova foi mostrada uma mensagem onde eu perguntava: Como está a LI da vacina?", disse.

Dias afirmou que é servidor de carreira há mais de 20 anos e que vem sendo "massacrado" pela imprensa "sem que haja uma única prova ou indício que sustente tais alegações". "Acerca da denuncia de Luis Miranda da Covaxin não tive participação nenhuma, me cabendo atos ordinários para a concepção do processo administrativo e questões logísticas. Friso: nunca houve pressão minha sobre o funcionário muito menos aquela mensagem retrata tal fato."

Ainda em sua fala inicial, o ex-diretor deu detalhes sobre o jantar com Dominghetti no restaurante Vasto, em Brasília. "Em 25 de fevereiro fui com um amigo no restaurante Vasto para tomar um chopp e, em dado momento, se dirigiu à mesa o coronel Blanco acompanhado de uma pessoa que se apresentou como Dominguetti", disse. 

Segundo ele, Dominghetti disse representar uma empresa que possuía 400 milhões de doses de vacina da AstraZeneca. Dias afirmou que a informação "circulava" no Ministério da Saúde e pediu que o revendedor solicitasse "agenda formal" na pasta. 

"Chegando ao Ministério, ele [Dominguetti] foi recebido por mim, os documentos se mostraram mais do mesmo, e não havia a carta de representação do fabricante. Ele disse que receberia em instantes. Eu disse que teria outra agenda, mas que se ele quisesse aguardar que ficasse à vontade na sala ao lado. Tempos depois ele se despediu, disse que tinha que ir embora e nunca mais tive noticias assim como muitos outros ofertantes de vacinas. Acerca da alegação de Dominguetti: nunca houve nenhum pedido meu a este senhor", disse.

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Antes de início de depoimento, CPI aprovou convocação de reverendo que negociou vacinas com a Davati

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Na sessão desta quarta-feira (7) aprovou três requerimentos, de autoria do vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). São eles: a convocação do reverendo Amilton Gomes de Paula, apontado pelo diretor do departamento de Imunização do Ministério da Saúde, Lauricio Monteiro Cruz, como quem abriu as portas da pasta para a empresa Davati Medical Supply e Dominghetti. 

O segundo requerimento é pela convocação de Andreia Lima, CEO da VTC Operadora Logística, para prestar depoimento à comissão. O terceiro e último requerimento aprovado convoca William Amorim Santana, servidor da divisão de importação do Ministério da Saúde.

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