Bilionário Richard Branson se prepara para fazer viagem arriscada ao Espaço
08/07/2021 12:00 em Business

Se tudo correr como planejado, Branson também será o primeiro bilionário a viajar ao espaço a bordo de um veículo que ele próprio ajudou a financiar

 

Richard Branson irá embarcar neste fim de semana em um avião espacial movido a foguete em um passeio de 3,7 mil quilômetros por hora até a borda do espaço. Se tudo correr conforme o planejado, claro. E há muitas coisas que podem dar errado.

O motor do foguete pode não acender. A cabine pode perder pressão e ameaçar a vida dos passageiros. E a complicada física envolvida para arremessar o avião espacial para fora – e de volta – da atmosfera da Terra pode destruir o veículo.

Mas Branson está pronto para seguir os passos dos pilotos de teste e funcionários da Virgin Galactic que já voaram no VSS Unity – esse é o nome do veículo que a empresa de Branson, Virgin Galactic, passou quase duas décadas desenvolvendo.

Se tudo correr como planejado, Branson também será o primeiro bilionário a viajar ao espaço a bordo de um veículo cujo desenvolvimento ele próprio ajudou a financiar, derrotando o concorrente nessa corrida espacial, Jeff Bezos, da Amazon, por apenas nove dias.

Sempre que os humanos estão em um veículo aerotransportado, há risco envolvido. Segue uma análise de quanto perigo Branson e as três pessoas que viajarão com ele vão correr.

Sobre o avião espacial: VSS Unity

Richard Branson fundou a Virgin Galactic em 2004 depois de assistir a um avião espacial chamado SpaceShipOne lançar um foguete no espaço e, com o feito, merecer o prêmio Ansari X Prize. O inglês comprou os direitos dessa tecnologia. Em seguida, uma equipe de engenheiros começou a trabalhar no desenvolvimento de um veículo maior, capaz de transportar dois pilotos e até seis clientes pagantes em viagens de alta velocidade. O projeto evoluído ganhou o nome de SpaceShipTwo.

A SpaceShipTwo decola de uma pista de avião. Ela é presa sob a asa de uma enorme nave-mãe de fuselagem dupla com quatro jatos e design personalizado. A nave-mãe é conhecida como WhiteKnightTwo. Quando ela atinge pouco mais de 12 mil quilômetros de altitude, o avião movido a foguete que carrega é lançado entre as suas fuselagens gêmeas. Em seguida, o motor do avião espacial é ligado para fazê-lo voar diretamente para cima, acelerando até mais de três vezes a velocidade do som, ou 3,7 mil quilômetros por hora.

Assim que atinge o topo de sua trajetória de voo, a aeronave fica suspensa na microgravidade enquanto vira de barriga para baixo antes de deslizar de volta para um pouso na pista. Da decolagem ao pouso, a viagem inteira leva cerca de uma hora.

O VSS Unity – nome do avião espacial tipo SpaceShipTwo que Branson levará ao espaço e o primeiro a fazer a jornada completa – completou três voos de teste bem-sucedidos até agora. Mas o programa de desenvolvimento da empresa também sofreu atrasos por vários motivos, incluindo um acidente fatal em 2014 que matou um piloto de teste.

Um voo de teste planejado em dezembro também foi interrompido quando o computador a bordo do motor de foguete do VSS Unity perdeu a conexão. Além disso, a Virgin Galactic encontrou um risco de segurança potencialmente sério durante um voo de teste em 2019, como revelou o repórter da revista “The New Yorker” Nicholas Schmidle em um novo livro, “Test Gods”, inédito no Brasil. Uma investigação de segurança foi solicitada para descobrir por que um selo na asa do avião espacial havia se soltado, arriscando a perda do veículo e a vida dos três membros da tripulação a bordo. Ninguém foi ferido no voo de teste, publicamente considerado um sucesso.

Depois do terceiro voo de teste do VSS Unity em maio, a empresa recebeu a aprovação da Federal Aviation Administration (FAA) para começar a levar passageiros. Isso não significa, no entanto, que a FAA – que se concentra principalmente em garantir a segurança de pessoas e propriedades no solo – está garantindo a segurança da espaçonave. Tal decisão cabe à Virgin Galactic, e a empresa fez o anúncio surpresa em 1º de julho de que Branson estaria no próximo voo de teste no domingo (11), tornando-se o primeiro membro não tripulante a fazer a viagem.

Markus Guerster, um profissional da indústria aeroespacial que foi coautor de um estudo de 2018 sobre os riscos do turismo espacial suborbital, disse que nunca é um momento perfeito para uma empresa considerar sua espaçonave segura o suficiente para transportar civis.

“É uma decisão meio difícil de se tomar, a de estar pronto ou não, porque ainda existe algum risco. Mas, se você não tentar, também não aprenderá”, afirmou Guerster. “Acho que o primeiro grupo de pessoas que vai voar reconhece o risco. Há muitas pessoas por aí que escalam o Monte Everest”.

Voo orbital x suborbital

Quando a maioria das pessoas pensa em voo espacial, elas imaginam um astronauta circulando a Terra, flutuando no espaço, por pelo menos alguns dias.

Não é isso que Branson (ou Bezos, aliás) fará.

Os dois bilionários vão subir e descer. Os voos da Virgin Galactic são breves viagens para cima e para baixo, embora percorram mais de 80 quilômetros acima da Terra, marco que o governo dos Estados Unidos considera como a fronteira do espaço sideral.

Os voos suborbitais da Virgin Galactic atingem cerca de três vezes a velocidade do som (cerca de 3,7 mil quilômetros por hora) e voam diretamente para cima. O avião pairará no topo de sua trajetória de voo, dando aos passageiros alguns minutos de ausência de peso. Funciona como uma versão ampliada da ausência de peso que você experimenta quando atinge o pico de uma montanha-russa, pouco antes da gravidade levar seu carrinho – ou, no caso de Branson, seu avião espacial – de volta para o chão.

Para descer, o VSS Unity irá então implantar o que é chamado de sistema de embandeiramento, que permite que as asas do avião espacial se dobrem, imitando a forma de uma peteca, para que possa se reorientar ao começar sua descida. Em seguida, ele abre suas asas novamente e desliza de volta para um pouso na pista. 

Mas isso nem sempre funcionou bem. O sistema de embandeiramento foi apontado como a “causa provável” do acidente fatal de voo de teste da Virgin Galactic em 2014, que tirou a vida do copiloto Michael Alsbury e deixou o piloto gravemente ferido. O sistema foi acionado prematuramente devido a erro humano, fazendo com que o veículo se partisse no ar. Desde então, a empresa se separou de seu parceiro de fabricação e instalou um salvaguardas computadorizado para evitar o mesmo erro.

New Shepard x SpaceShipTwo

Embora Branson tenha negado que sua tentativa de chegar ao espaço neste fim de semana tenha algo a ver com o momento do voo do rival Bezos, a iniciativa gerou muitos comentários sobre uma corrida espacial bilionária. E, quando se trata de risco, Guerster disse que há muitos prós e contras sobre os veículos que Branson e Bezos usarão.

O avião espacial da Virgin Galactic tem algumas vantagens inerentes. O fato de o VSS Unity ter asas e decolar horizontalmente de uma pista dá aos pilotos mais tempo para corrigir o curso se algo der errado. Já no sistema de foguete e cápsula do New Shepard a ser usado no voo de Bezos, há menos espaço para erros, de acordo com Guerster. Porém, o New Shepard tem um sistema de fuga de emergência que pode ejetar passageiros de um foguete com defeito e lançá-los de paraquedas, se necessário.

A outra grande diferença entre as espaçonaves é que o VSS Unity requer dois pilotos para voar, enquanto o New Shepard é totalmente automatizado. Os especialistas se dividem quando se trata de avaliar essas duas abordagens.

“Não se pode dizer o que é melhor ou pior”, opinou Guerster.

Ainda assim, o New Shepard também voou em 15 missões de teste diferentes e nunca teve um acidente catastrófico. É por isso que Guerster disse que, se tivesse que escolher em qual espaçonave se amarraria primeiro, escolheria o New Shepard de Bezos.

No entanto, o próprio especialista acrescentou que também estaria disposto a fazer uma viagem no VSS Unity da Virgin Galactic.

“Acho que é uma jornada mais emocionante”, afirmou.

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