Ofertas de ações desta semana podem chegar a R$ 9 bilhões
12/07/2021 17:37 em Business

O desempenho favorável das ações que chegaram à Bolsa desde janeiro também deve dar sustentação à nova leva de IPOs

Uma "nova safra" de oferta de ações se inicia nesta segunda-feira (12), com um movimento previsto de mais de R$ 9 bilhões somente nesta semana e potencial para alcançar um novo recorde ao longo dos próximos meses, segundo os bancos responsáveis por estruturar as operações.

Considerando todas as 16 ofertas que estão protocoladas, a possibilidade seria de uma "janela" de R$ 45 bilhões, valor superior ao período anterior, que já foi recorde, com R$ 33 bilhões.

Os números sempre podem mudar, uma vez que o apetite do investidor varia conforme as novidades do cenário econômico. Os especialistas indicam, no entanto, que os sinais são positivos, com as projeções do PIB favorecendo o humor dos investidores. Para explicar o otimismo, eles apontam ainda para um maior número de ofertas de grande porte, o que dá conforto aos investidores, pois estão relacionadas a empresas fortes.

Também há a expectativa de que, desta vez, os preços não cheguem inflados demais, ao contrário do que ocorreu no primeiro semestre.

O desempenho favorável das ações que chegaram à Bolsa desde janeiro também deve dar sustentação à nova leva de IPOs (ofertas iniciais de ações, na sigla em inglês) e nos lançamentos subsequentes (follow-ons), na opinião do responsável pelo banco de investimento do Santander, Gustavo Miranda. Ele cita, que dos 28 IPOs feitos de janeiro até agora, 20 têm suas ações com desempenho positivo na Bolsa desde a precificação, sendo que 18 superam o desempenho do Índice Ibovespa, referência para o mercado nacional.

Segundo Miranda, entre as 16 ofertas subsequentes, apenas 5 tiveram desempenho negativo.

"A revisão das expectativas para um cenário macroeconômico mais favorável, somada a ofertas maiores de boas empresas e a um histórico de desempenho positivo das ofertas anteriores, impulsiona a performance dos gestores e os incentiva a seguir participando das boas histórias", ressalta Miranda. Por outro lado, ele afirma que a Bolsa tem estado sujeita a volatilidade, lembrando que, na semana passada, o mercado financeiro reagiu com baixas às renovadas preocupações fiscais.

Segundo Miranda, questões hidrológicas, que elevam o risco energético do País, e o cenário eleitoral ainda não entraram de forma contundente nas discussões de mercado. O executivo também observa que os gestores estão mais rigorosos nas discussões de valor das ofertas, algo que começou na segunda janela do ano, e, de acordo com ele, passou a ser uma constante.

O sócio e responsável pelo banco de investimento da XP, Pedro Mesquita, vai mais longe e diz que o ambiente positivo deve permitir que até R$ 200 bilhões em ofertas em Bolsa sejam feitas este ano, superando com folga o recorde de R$ 117 bilhões do ano passado.

"Quando se olha os indicadores como economia, resultados das empresas e perspectivas de reformas, assim como o avanço da vacinação apontando para o controle da pandemia de Covid-19, essa é uma projeção que pode até ser considerada conservadora", enumera.

Mesquita chama também a atenção para o fato de que as novas histórias seguem atraindo investidores, como as empresas menores do setor de telecomunicações - entre elas a Brisanet, a Unifique e a Desktop - aproveitando o momento. A Unifique, por exemplo, já chega com cerca de 70% de sua oferta com investidores interessados.

Retomada

A rede de academias Smart Fit, que abre a semana com seu IPO de até R$ 3 bilhões, tem atraído demanda suficiente para mais de dez vezes a oferta, de acordo com fontes. A precificação acontece hoje, e a tese da retomada têm atraído investidores que olham como espelho o desempenho de ações do segmento de academias nos EUA, onde a vacinação e flexibilização estão aceleradas.

De setores mais tradicionais, mas que também miram histórias focadas na retomada, mais especificamente a econômica, estão as ofertas da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), nesta terça, 13, e da InterCement, segunda maior produtora de cimentos do País, na quarta-feira, 14.

A expectativa é de que movimentem cerca de R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões, respectivamente.

Antes de estreia, Multilaser alerta para riscos tributários

A Multilaser (de eletrônicos) deve fazer a oferta na quinta, 15, com expectativa de R$ 2 bilhões. Na transformação de uma empresa de reciclagem de cartuchos, no início dos anos 2000, ao posto de fabricante de bens de consumo, com 20 marcas próprias, a Multilaser multiplicou em 100 vezes a sua receita. Os R$ 3 bilhões anuais de faturamento incluem a atuação em segmentos que vão de itens para pets a TVs e celulares.

A companhia se prepara para abrir, nos próximos dias, um novo capítulo da sua história, com uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) para levantar cerca de R$ 2 bilhões. Nesse processo, o grupo se apresentou com mais profundidade ao mercado e exibiu dados operacionais que foram bem avaliados, mas também riscos que chamam a atenção.

A empresa pretende destinar pouco mais de 40% dos recursos para reforço de caixa, ou R$ 792 milhões, considerando o preço médio da faixa indicativa, de R$ 11,90 por ação. Outros 15% serão reservados para potenciais aquisições.

Já o restante será usado para o pagamento de dívidas (R$ 870 milhões). Os créditos que poderão ser liquidados ou amortizados com os novos recursos foram levantados para capital de giro. Quase metade do volume envolve cifras tomadas com os bancos coordenadores da oferta - a maioria contratada nos últimos nove meses, segundo o prospecto da operação.

Para Miguel Felipe Costa Vieira, gerente associado líder de M&A da Peers Consulting, o uso dos recursos do IPO para liquidar créditos recentes é um ponto de atenção. Mas ele destaca como positivo o fato de o endividamento no período ter sido acompanhado de um aumento consistente na receita.

O resultado da companhia traz outro ponto de alerta. Segundo a empresa, os benefícios fiscais representaram pouco mais da metade do lucro líquido em 2020. Ao citar o tema como fator de risco, a empresa diz que a parcela dos incentivos no lucro, que chegou a R$ 253 milhões em 2020, não pode ser distribuída como dividendo.

A questão tributária é recorrente nos documentos, com mais de 40 citações ao longo das quase 700 páginas do prospecto. Entre elas, os processos judiciais referentes ao tema, a maioria do total dos R$ 143 milhões em ações consideradas como perda provável, provisionadas, e dos R$ 428 milhões avaliados como perdas possíveis, sem reservas. As contingências tributárias foram consideradas como "significativas", numa nota de auditores no balanço de 2020.

Um profissional de uma grande gestora afirma que a viabilidade do IPO não está ameaçada. Segundo ele, porém, alguns demandam ajustes de preço, como o de benefícios fiscais e processos tributários.

"São fatores de risco. O crescimento da Multilaser é muito expressivo. Se não fosse isso (os riscos), o IPO estaria vindo a múltiplos super altos", afirma o gestor, que pediu para não ser identificado. Procurada, a Multilaser afirmou que não vai comentar porque está em período de silêncio. 

 
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